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domingo, julho 11, 2010

A difícil (e cara) missão de entregar nas grandes cidades

          Está cada vez mais difícil entregar nas grandes cidades. Na década de 90, era comum a realização de 30 ou mais entregas por veículo. No início desta década reduziram-se para ao redor de 20 e para o futuro breve projeta-se de 10 a 15.
          À queda na produtividade somou-se ao aumento do custo de transporte, devido ao uso de veículos cada vez menores, como os VUC – Veículo Urbano de Carga com comprimento máximo de 5,50 metros e os VLC – Veículo Leve de Carga (ou ¾ como são conhecidos), com comprimento máximo de 6,5 metros . Devido à menor capacidade de carga útil, o custo em R$/ton saltou de cerca de R$ 50 por tonelada para mais de R$ 100 a R$ 250 por tonelada.
           A imposição de zonas para a restrição de veículos e de horários para entrega colaborou ainda mais para acrescentar novos custos à operação de distribuição. Recentemente, com as medidas restritivas criadas pela prefeitura municipal de São Paulo (posteriormente copiadas por outras cidades), surgiu a TRT – Taxa de Restrição de Acesso, para compensar os custos operacionais adicionais impostos às Transportadoras, que equivale a 20% do valor do frete cobrado.
           E já existia a cobrança da TDE – Taxa de Dificuldade de Entrega e a TDA – Taxa de Dificuldade de Acesso. Além é claro dos tradicionais GRIS – Gerenciamento de Risco e Ad-Valorem.
           Além do custo econômico, é claro, existe um custo social associado ao problema da difícil mobilidade urbana. Motoristas e ajudantes trabalham cada vez mais, enfrentando jornadas desumanas de até 14 horas diárias, gerando gastos adicionais com horas-extras, fora o estresse causado pela dificuldade de locomoção e a cobrança incessante, de Clientes e patrões. Adicione ainda os problemas respiratórios, pois não é nada saudável passar o dia todo respirando esse “maravilhoso” ar puro das cidades.
          E infelizmente, não há solução de curto prazo e nem de baixo investimento. Medidas restritivas e punitivas são paliativas, e apenas “empurrarão” um pouco mais para frente os problemas já existentes. Rodízio de veículos, pedágio urbano, inspeção veicular, estreitamento de faixas, inversão do fluxo nos horários de “pico”, aumento da fiscalização e multas, restrição a motocicletas, ônibus fretados e caminhões, etc., são medidas pouco eficazes. Aprenderemos em breve que os caminhões não são os vilões do trânsito, pois para cada caminhão em circulação existem outros 12 veículos de passeio. Em 2009 produzimos 3,0 milhões de automóveis e comerciais leves contra apenas 123 mil caminhões. Nossa frota é estimada em mais de 25 milhões de veículos, sendo que os caminhões representam um pouco mais de 2,0 milhões deles.
           Aprenderemos também o quanto custará para uma sociedade a carência do transporte coletivo e a precária infra-estrutura para intermodalidade, fruto do descaso do poder público.
           No Brasil, a relação de habitantes por veículo é de 7,4, enquanto nos Estados Unidos é 1,2 e na Europa Ocidental varia de 1,5 a 2,0. Ou seja, nossa frota de veículos vai aumentar ainda, e muito!!!
           O problema deixou de ser apenas de grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife ou Fortaleza. Cidades que contam com 500 mil a 1 milhão de habitantes já enfrentam problemas de congestionamento das vias, é claro que em menor proporção, mas que em 5 a 10 anos terão suas vias de circulação saturadas, como Guarulhos, Campinas, Joinville, Florianópolis, etc.
          São Paulo teve no dia 10/06/2009 o recorde de trânsito, alcançando 293 km de vias congestionadas. São cerca de 1.000 novos veículos todos os dias.
           Considerando as estatísticas dos últimos 10 anos, a frota de veículos em Guarulhos cresceu a um ritmo assustador de 8,4% ao ano; em Joinville chegou a 8,1% e em Blumenau e Brasília a 7,5%. As principais capitais do Nordeste cresceram a taxas inferiores a 7,0% (Recife 5,7%, Salvador e Fortaleza 6,8%).
           Grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro tiveram um crescimento de 5,4% e 4,3% respectivamente. Segundo a ABCR – Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, o fluxo nas rodovias pedagiadas aumentou 4,9% no comparativo entre Abril/2010 e Abril/2009.
           São Paulo, segundo especialistas, parará em mais 2 ou 3 anos. A sua cidade talvez ainda sobreviva por 10 anos. A pergunta que todos fazemos é: o que está sendo feito (ou será) para reverter esse quadro? Nada, absolutamente nada. Está cada vez mais fácil comprar um carro ou um caminhão. As vias públicas não crescem na mesma velocidade e tampouco o transporte público oferece uma solução econômica e confortável para a população. Novas linhas de metrô são inauguradas e em pouquíssimo tempo estão saturadas. Novas avenidas são construídas ou duplicadas e servem apenas para estimular as pessoas a usarem ainda mais seus veículos.
           Desta forma, não é preciso ser vidente, guru ou ter uma bola de cristal. A logística ficará cada vez mais complexa e mais cara!!!


"Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda."